Desafios na era da fraude digital e globalizada

A tecnologia digital se estende por todas as esferas da vida em todo o mundo, trazendo consigo o verdadeiro significado da globalização. Enquanto o sistema cibernético oferece oportunidades de comunicação, alguns indivíduos ou comunidades exploram as possibilidades de práticas para fins criminosos. 

Os desafios do Direito Penal frente aos crimes cibernéticos são complexos e multifacetados.  As dificuldades de se ter investigações concretas no Brasil, juntamente com a natureza transfronteiriça desses crimes, torna a punição dos infratores uma tarefa árdua. 

Neste contexto, surge a questão: Quais são os desafios do Direito Penal frente aos crimes cibernéticos? 

A Explosão dos Crimes Cibernéticos

Os criminosos, hackers propriamente, exploram a Internet e outras comunicações de rede em escala internacional. Esta situação é alarmante, pois a medida que a tecnologia avança, a criminalidade se expande em uma velocidade ainda maior. O Brasil, embora possua legislação específica sobre os crimes praticados nas plataformas digitais, que vale dizer tratam-se apenas um local virtual onde os crimes podem ser praticados, como na rua, por exemplo, enfrenta de maneira tímida a criminalidade cibernética não por ausência de legislação para tanto, mas pela falta de “braços” efetivos para coibir a criminalidade diante do volume que se apresenta; a cada minuto temos um crime sendo praticado por meios virtuais. Portanto, a ausência de ferramentas de fato eficientes para coibir a criminalidade econômica-cibernética, acabam por apresentar-se insuficientes para punir os agentes que cometem fraudes e crimes cibernéticos.

Desafios que podem alterar a realidade atual 

O principal desafio reside no Código Penal Brasileiro, que tipifica vários crimes praticados na internet, mas é inadequado para coibir essas práticas. A ausência de uma lei específica para combater o crime cibernético no Brasil é evidente. Além disso, é crucial reconhecer que esses crimes transgridem fronteiras, intensificando a necessidade de ações transfronteiriças para punir os infratores.

Compreendendo o Crime Cibernético

Para entender a importância dos crimes cibernéticos, é primordial definir este conceito. Crime cibernético é um fenômeno inerente às transformações tecnológicas que influenciam diretamente o Direito Penal. É praticado por meio eletrônico, envolvendo invasão de rede ou extração de dados de dispositivos eletrônicos sem consentimento da vítima.

Classificação e Natureza dos Crimes Cibernéticos

Os crimes cibernéticos podem ser classificados de diversas maneiras. Alguns esquemas de classificação os dividem em crimes de computador ativos e passivos. Os ativos envolvem o uso do computador para cometer o crime, como invasões de segurança, enquanto os passivos usam o computador para apoiar atividades ilegais, como fraudes econômicas-cibernéticas

Desafios no Contexto Internacional

Internacionalmente, múltiplos organismos têm buscado definir e delimitar os crimes cibernéticos. A OCDE, em 1983, delineou a legislação existente e fez recomendações para os Estados-Membros. A Convenção do Conselho da Europa sobre Crime Cibernético, assinada em 2001, define o crime informático como qualquer evento que vise abusar ou violar a disponibilidade, confidencialidade e integridade de dados, redes e sistemas informáticos.

Principais crime cibernéticos da atualidade

A ampla gama de crimes cibernéticos representa um desafio significativo para o Direito Penal, exigindo respostas adequadas para proteger indivíduos propriedades, organizações das mais variadas que se apresentam na sociedade. Na era da fraude digital e globalizada, podemos citar as infrações abaixo:

1. Crimes contra Pessoas Físicas

Os crimes cibernéticos direcionados a indivíduos abrangem uma variedade de atividades prejudiciais, como a disseminação de pornografia infantil, o assédio digital, a difamação online, o hacking, o phishing, entre outros. Esses crimes podem causar danos significativos aos indivíduos afetados, representando uma séria preocupação na esfera penal.

2. Crimes contra Propriedade Digital e Intelectual

Os delitos cibernéticos contra propriedade digital e intelectual englobam atos de vandalismo de sistemas computacionais, violações de direitos autorais, ameaças virtuais, entre outros. Eles são frequentemente associados a instituições financeiras e têm o potencial de causar sérios prejuízos econômicos e reputacionais.

3. Crimes contra Instituições e Organizações

Os crimes cibernéticos contra instituições e organizações incluem formas de terrorismo digital, com grupos como oAnonymous se destacando por ataques a entidades empresariais e governamentais. Esse tipo de crime pode ter como alvo sistemas governamentais ou militares, representando uma ameaça à segurança nacional e corporativa.

4. Crimes com Impacto Social

Esta categoria abrange uma variedade de crimes cibernéticos que afetam a sociedade como um todo, como a disseminação de fake news, o comércio ilegal de produtos e serviços, a extorsão online, entre outros. Tais crimes podem ter repercussões significativas no ambiente social e econômico, exigindo respostas eficazes por parte das autoridades legais.

O Futuro das Fraudes Digitais

No cenário do Direito Penal, enfrentamos uma série de desafios intrínsecos à dinâmica e globalização da internet. E apesar deles, essa área oferece diversas oportunidades para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de combate à criminalidade digital:

  • Cooperação Internacional: A colaboração entre países é essencial para enfrentar a criminalidade digital, por meio de tratados e acordos internacionais.
  • Atualização Legislativa: A revisão e atualização das leis penais, no cerne de suas penalidades, que em não raras vezes possuem penas baixas e que pela demora nas investigações acabam por prescreverem, impedindo a aplicação da lei penal, são fundamentais para abordar os desafios trazidos pela tecnologia digital, adaptando-se às mudanças no cenário tecnológico.
  • Investimento em Tecnologia: O desenvolvimento de tecnologias de segurança cibernética e investigação digital auxilia na prevenção e detecção de crimes digitais.
  • Educação e Conscientização: A promoção da educação e conscientização sobre segurança cibernética e boas práticas digitais reduz a incidência de crimes digitais.

O sistema legal exerce um papel vital na defesa dos direitos e segurança dos indivíduos no contexto digital. Diante de desafios complexos, como a natureza transnacional dos delitos e o constante avanço tecnológico, é fundamental que toda legislação seja passível de cumprimento, pois não há, atualmente, estrutura de gestão e “braços” para que isso ocorra, de modo que possa ser devidamente cumprida ajustando-se e progredindo para assegurar a eficácia da justiça na era digital. Isso demanda uma abordagem colaborativa e interdisciplinar, que envolva não apenas advogados e o poder público, mas também especialistas em tecnologia, acadêmicos e membros da sociedade civil. Somente assim será possível construir um ambiente digital mais seguro e equitativo para todos.

Carla Rahal, sócia do Viseu

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