A inteligência artificial (IA) tem se estabelecido como uma força transformadora em diversas esferas da sociedade contemporânea, e as relações de consumo não são exceção. Com a capacidade de analisar grandes volumes de dados e tomar decisões de forma autônoma, os sistemas de IA estão redefinindo a maneira como as empresas interagem com os consumidores e como os produtos e serviços são comercializados.
Um dos principais impactos da IA nas relações de consumo é a personalização e a segmentação de produtos e serviços. Por meio da análise de dados detalhados sobre o comportamento e as preferências dos consumidores, os algoritmos de IA são capazes de oferecer recomendações altamente específicas e direcionadas, adaptadas às necessidades individuais de cada usuário. Isso não apenas melhora a experiência do consumidor, mas também aumenta as chances de conversão e fidelização.
Outro aspecto importante é a automação de processos, que tem o potencial de otimizar a eficiência operacional das empresas e reduzir custos. Os chatbots e assistentes virtuais, por exemplo, são cada vez mais comuns em serviços de atendimento ao cliente, oferecendo respostas rápidas e precisas a perguntas comuns e simplificando o processo de compra e suporte pós-venda.
No entanto, é importante reconhecer que o uso generalizado da IA nas relações de consumo também traz desafios e preocupações. Um dos principais é a questão da privacidade e segurança dos dados dos consumidores. À medida que as empresas coletam e analisam uma quantidade cada vez maior de informações pessoais, surgem preocupações legítimas sobre o uso e a proteção desses dados contra uso indevido ou vazamentos.
Além disso, a dependência excessiva da IA para tomar decisões comerciais pode levantar questões sobre transparência e responsabilidade. Os algoritmos de IA podem ser complexos e opacos, tornando difícil para os consumidores entender como suas decisões são tomadas e contestar possíveis erros ou vieses.
O iFood, por exemplo, uma das principais plataformas de entrega de alimentos do Brasil, está inovando em sua abordagem ao consumidor ao adotar tecnologias de para transformar a experiência de compra e interação dos usuários, de acordo com matéria divulgada em meados de 2023 pelo canal Mercado & Consumo.
Imagine pedir seu lanche favorito apenas com um comando de voz ou planejar suas compras de supermercado através de uma simples conversa no WhatsApp. Essas são algumas das novidades que o iFood está introduzindo para seus usuários, marcando uma nova era na relação entre consumidores e tecnologia.
Investindo e desenvolvendo diversos modelos de IA, o iFood está buscando melhorar sua eficiência operacional e oferecer soluções para seus clientes, entregadores e restaurantes parceiros.
Uma das novidades apresentadas nessa matéria é uma funcionalidade que utiliza IA para transformar listas de compras em textos a partir de mensagens escritas pelos consumidores via WhatsApp. Essa integração entre iFood, WhatsApp e modelos de IA da OpenAI permite uma jornada exclusiva para empreendedores e consumidores, simplificando o processo de compras e agilizando desde a conversa inicial até o recebimento de pedidos.
Inteligência Artificial nas Políticas Públicas de Direito do Consumidor
A inserção da inteligência artificial (IA) nas estratégias de políticas públicas voltadas ao Direito do Consumidor pode desempenhar um papel crucial no fortalecimento e na salvaguarda dos direitos dos consumidores. Estudos têm destacado que o uso adequado da tecnologia pode contribuir para o empoderamento dos consumidores, oferecendo-lhes informações e conhecimentos que os capacitem a tomar decisões mais conscientes e assertivas, especialmente em ambientes de mercado complexos e desafiadores.
Um exemplo elucidativo é a adoção dos medidores eletrônicos de energia elétrica, conforme mencionado em relatórios da OCDE sobre políticas baseadas em insights comportamentais. Esses dispositivos permitem aos consumidores acessar instantaneamente informações sobre seu consumo de energia e os valores das tarifas em tempo real. Com esses dados à disposição, os consumidores têm a capacidade de ajustar seu consumo, evitando desperdícios em momentos de tarifas mais elevadas. Estudos demonstram que a implementação desses medidores resultou em uma redução significativa no consumo de energia, indicando o impacto positivo da IA na eficiência energética e na promoção de práticas mais sustentáveis.
Além de facilitar uma gestão mais eficaz dos recursos, a IA também pode contribuir para uma maior conscientização dos consumidores sobre suas próprias necessidades de consumo, incentivando escolhas mais responsáveis e alinhadas com seus valores pessoais. Ao fornecer informações detalhadas sobre produtos e serviços, a IA capacita os consumidores a fazerem escolhas informadas e alinhadas com suas preferências individuais.
Entretanto, é fundamental destacar que a aplicação da IA nas políticas públicas de Direito do Consumidor requer uma análise cuidadosa das dinâmicas específicas de cada mercado. É necessário compreender os padrões de concorrência, os hábitos de consumo e outras variáveis específicas de cada setor antes de implementar medidas baseadas em IA. Por exemplo, no caso do setor de energia, a redução do consumo pode ser um objetivo relevante para o Estado, especialmente à luz da necessidade de transição energética e da regulação do fornecimento de energia como serviço essencial.
Portanto, a inteligência artificial pode ser uma ferramenta valiosa para impulsionar políticas públicas mais ágeis e eficazes no âmbito do Direito do Consumidor, desde que sua implementação seja feita de maneira criteriosa e alinhada aos objetivos e características específicas de cada mercado e contexto regulatório.
O futuro do Direito do Consumidor
A integração da IA no mundo jurídico está profundamente ligada à forma como os departamentos jurídicos e escritórios de advocacia lidam com reclamações e demandas judiciais de consumo.
Com o avanço da tecnologia, torna-se essencial compreender como os departamentos jurídicos podem se adaptar à era da IA e quais ferramentas estão disponíveis para reduzir suas demandas de consumo. Ela, sem dúvidas, vai trazer mais eficiência às empresas para realizarem análises rápidas de padrões e tendências nas reclamações de consumo, facilitando a resolução proativa de diversos problemas e automatizando o atendimento ao cliente, reduzindo dúvidas, insatisfações e reclamações.
Mesmo diante dos inúmeros benefícios das ferramentas de IA, algumas questões precisam ser previstas e enfrentadas. A implementação da IA requer tecnologia e infraestrutura adequadas, o que pode representar desafios em termos de investimento, integração e manutenção para escritórios de advocacia e empresas. Além disso, a resistência dos profissionais e a falta de compreensão das possibilidades da IA também podem ser obstáculos a serem superados.
Nesse cenário, surgem as colaborações entre empresas e escritórios de advocacia, que atuam como parceiros externos dos departamentos jurídicos. Por meio de suas áreas de “Legal Ops”, esses escritórios fornecem expertise legal na implementação de soluções de IA, desempenhando um papel vital na integração dessas tecnologias com as operações jurídicas das empresas.
Dentre as ferramentas de IA já disponíveis, destacam-se os chatbots jurídicos, análises preditivas, gestão de contratos e previsão de litígios. Essas ferramentas têm sido utilizadas com sucesso em diversas práticas, proporcionando eficiência, redução de tempo, economia e satisfação do cliente.
A IA está apenas começando a remodelar o direito do consumidor, e as tendências indicam um aumento na adoção e uma evolução contínua das tecnologias e práticas. A colaboração entre escritórios de advocacia, empresas e legal techs é essencial para aproveitar essas inovações e garantir uma resolução ágil e eficaz dos conflitos de consumo.
O futuro do direito parece promissor com a incorporação da IA, que promete uma era mais adaptada às necessidades dos consumidores e do mercado de consumo.
